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Você tem Transtorno da Compulsão Alimentar (TCAP)?

  • Foto do escritor: Geanne Paulino
    Geanne Paulino
  • 24 de set. de 2024
  • 6 min de leitura

Olá! Se você já se viu devorando pizzas em um rodízio, mesmo depois de sentir que não aguentava mais, você não está sozinho. Quem nunca pensou: "Já que estou pagando, vou aproveitar cada fatia"? Esse hábito pode ser mais do que apenas uma vontade de aproveitar ao máximo - pode ser um sinal de algo mais profundo.


Hoje, vamos falar sobre o Transtorno da Compulsão Alimentar - um nome que pode soar assustador, mas que descreve algo que muitos enfrentam sem perceber. Sou Geanne Paulino, psicóloga clínica há 13 anos, e meu foco é ajudar pacientes bariátricos a alcançar uma vida mais saudável, com amor próprio e confiança. E se você se identificou com a situação que comentei, fica comigo até o final que esse conteúdo pode transformar sua vida!

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O Transtorno Compulsivo Alimentar Periódico é um desafio que vai além do simples comer em excesso. É sobre aquelas vezes em que comer se torna uma forma de lidar com emoções, um comportamento que pode surgir antes mesmo de pensar em uma cirurgia bariátrica. Vamos entender juntos o que é esse transtorno, como identificá-lo e por que é crucial reconhecer seus sinais o quanto antes.


Recebo muitas pessoas no consultório com o relato de que quando chega à noite, depois de um dia cansativo de trabalho, sentem uma fome insaciável. Vontade de comer tudo o que veem pela frente. Queixam-se que o apetite só dá o ar da graça à noite, na hora de dormir. Isso já aconteceu com você? 


Não sei se vocês sabem, mas para quem trabalha com a área da saúde mental e precisa avaliar se há presença ou não de algum transtorno mental, existe um manual chamado DSM que significa Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. Atualmente, estamos na 5ª edição desse livro, e é através dele que trarei as informações para esclarecer alguns questionamentos.


De acordo com o DSM, temos alguns critérios diagnósticos para seguir e avaliarmos se há o TCAP ou não. Uma das características é a frequência do comer compulsivo. Não se trata apenas de comer bastante, mas comer em um curto espaço de tempo, sem controle. O corpo não aguenta mais, mas a pessoa continua comendo e isso está além do padrão de satisfação. É aquela pessoa que começa a comer e não consegue parar. E não pensem que há escolha de comer algum alimento gostoso, específico, mas qualquer alimento que esteja mais acessível. 


São pessoas que comem, dentro de um período de 2 horas, uma quantidade de alimentos que é definitivamente maior do que a maioria das pessoas comeria em período e condições semelhantes. Durante os episódios de compulsão, os pacientes relatam que não têm controle, eles não conseguem parar de comer e nem controlar a quantidade de comida ingerida.


Na compulsão alimentar, pelo menos três dessas características precisam estar presentes:

1- As pessoas comem mais rápido que o normal;

2- comem até sentirem-se desconfortavelmente cheios;

3- comem grandes quantidades de alimentos mesmo sem estarem com fome;

4- comem sozinhos, pois sentem muita vergonha da quantidade de alimentos que consomem; e por fim,

5- sentem-se enojados de si mesmo, deprimidos ou com intensa sensação de culpa após comerem demais.


Aqui identificamos alguns comportamentos que podem ter ocorrido na pizzaria: Você pode ter comido rápido, ter se sentido extremamente cheio, comido os pedaços de pizza mesmo sem fome e depois sentiu culpa por ter comido demais. Mas um dos comportamentos citados acima, certamente não aconteceu: Como você estava em uma pizzaria, acredito que havia a presença de mais pessoas no ambiente, então você comeu, mas não escondido, talvez não estivesse com vergonha. Mas lembra que eu disse que pelo menos três desses comportamentos precisam estar presentes e não todos?


Ainda assim não temos a resposta para saber se se trata ou não do TCAP. Para configurar em compulsão alimentar, os episódios precisariam ter ocorrido, em média, pelo menos uma vez por semana nos últimos três meses. Sem a presença de comportamentos compensatórios inadequados, como aqueles observados na bulimia nervosa que incluem: vômitos autoinduzidos; jejum; exercícios em excesso, uso de laxativos, diuréticos, entre outros. E não ocorrem exclusivamente durante o curso de bulimia nervosa ou anorexia nervosa.


Estima-se que cerca de 3% da população sofra de TCAP. Destes, 2/3 são mulheres e 1/3 homens. Mais de 75% desses pacientes apresentam sobrepeso. O início do quadro compulsivo costuma ser durante a adolescência ou nos primeiros anos da vida adulta, mas a maioria dos pacientes só procura atendimento médico por volta dos 35-40 anos. 


Podemos identificar a gravidade do transtorno da compulsão alimentar periódica baseada no número de episódios de ingestão compulsiva dos alimentos:


  • Leve: 1 a 3 episódios por semana.

  • Moderado: 4 a 7 episódios por semana.

  • Grave: 8 a 13 episódios por semana.

  • Extremo: 14 ou mais episódios por semana.


Percebe como é solitário e angustiante para quem sofre desse transtorno? Pois com a vergonha que sentem, acabam criando hábitos de se esconderem para que ninguém os veja. Além disso, fica difícil identificar para além do relato do próprio paciente, pois são comportamentos alimentares que eles procuram ter sem a presença de outras pessoas. 

Alguns sinais servem de alerta para os amigos e familiares conseguirem ajudar.


Geralmente, além da obesidade associada, a pessoa apresenta uma clara insatisfação com o peso, oscilações do peso ao longo de meses e anos, usam roupas mais largas na tentativa de esconder a aparência física. São aquelas pessoas que buscam se isolar da sociedade, sofrem com baixa autoestima, sintomas depressivos, etc. Mas além disso, tem como observar também pela presença de comida escondida no quarto ou migalhas de comida espalhadas pela casa como armários, banheiros... e também o desaparecimento de comida da despensa e geladeira. Enfim, são alguns indícios para que os familiares e amigos possam observar e tentar ajudar quem sofre do transtorno. Os fatores de risco mais comuns têm a ver com histórico familiar de distúrbios alimentares, obesidade, depressão, agressão física ou abuso sexual, bullying, baixa autoestima e também idade menor que 25 anos. 


E nesse momento eu oriento que ninguém precisa sofrer sozinho. Precisamos compartilhar com alguém da nossa confiança qualquer problema que estejamos passando. Entende que se você se identificou com algum desses sintomas, você não precisa passar por isso sozinho? Minha intenção é trazer informação que transforme a sua vida de alguma forma! Quero que a partir de agora, com tudo isso que conversamos, você entenda que ter um transtorno compulsivo não significa viver o resto da vida com ele, pois existe tratamento. E não foi do dia para noite que você chegou a esse ponto. Certamente tiveram alguns acontecimentos anteriores que contribuíram para o desenvolvimento da doença.


Não existe uma causa específica para o transtorno, pois é um distúrbio de origem multifatorial que envolve fatores genéticos, psicológicos e ambientais. E você sabia que a presença de níveis baixos de serotonina podem estar associada à compulsão alimentar? Além disso, o mau funcionamento de partes do cérebro que controlam o apetite, como o hipotálamo, também podem estar envolvidos. E isso faz com que a pessoa apresente o vício pela comida e assim não sente saciedade ao comer. 


E eu te pergunto: você tem culpa de ter seu nível de serotonina rebaixado? De ter mau funcionamento em partes do seu cérebro? Está vendo como ultrapassa o seu modo de se comportar em relação à comida? Isso tem a ver com a parte fisiológica do seu organismo. E para isso temos tratamento medicamentoso que vai te ajudar nesse controle e também a psicoterapia como aliada para te ajudar a entender seu funcionamento.


Percebam como é um transtorno importante para ser identificado antes da cirurgia bariátrica? Pois ele pode comprometer significativamente o sucesso da sua cirurgia, pode dificultar sua perda de peso e a manutenção dos resultados a longo prazo. Então, no momento em que faço a avaliação para a cirurgia, um dos protocolos que sigo é avaliar a compulsão alimentar através de uma escala direcionada que vai me auxiliar na descoberta do transtorno. É fundamental abordar esse comportamento antes que a cirurgia aconteça, pois precisamos trabalhar com o paciente todas as variáveis que poderão interferir na recuperação e sucesso da cirurgia. Reconhecer os fatores que contribuem para a compulsão alimentar é sine qua non, pois sabemos do envolvimento de aspectos psicológicos, como dificuldade em organizar as emoções, ansiedade e depressão associados, então quanto antes tratarmos, melhor será o resultado duradouro da cirurgia.


Enfim, hoje eu quis trazer um pouco sobre a Compulsão Alimentar e a importância de identificar o transtorno antes de realizar a cirurgia bariátrica. Procurei falar tanto para as pessoas que sofrem da doença como para seus familiares conseguirem identificar a doença. A ideia é que com a informação e presença de alguns sinais, já consigam identificar e buscar ajuda.


Se esse assunto te interessou e você gostaria de saber mais, coloque nos comentários para que eu possa trazer ainda mais conteúdo. Ou se imagina que vai ajudar alguém do seu convívio, compartilhe! Vamos levar informação para quem precisa. Às vezes a pessoa que está do seu lado está em sofrimento e você não sabe, ou talvez pode ser você essa pessoa. Saiba que nunca é tarde para pedir ajuda! 


 
 
 

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